
No dia em que os líderes dos dois países mais ricos do planeta conversaram por telefone, o mercado ficou mais cauteloso com a espera de possíveis anúncios que não vieram, nem do lado dos Estados Unidos, de Donald Trump, nem pela China, de Xi Jinping.
As bolsas norte-americanas e a brasileira fecharam no vermelho e, por aqui, o dólar recuou. A divisa desvalorizou 1,08% frente ao real e encerrou o pregão cotada a R$ 5,584 — o menor patamar desde 10 de outubro de 2024.
De acordo com a agência oficial de notícias da China Xinhua, a conversa entre Xi Jinping e Trump ocorreu a pedido do presidente dos EUA.
Em publicação na rede Truth Social, o republicano confirmou o telefonema e destacou que o assunto principal foram as "complexidades" da escalada tarifária entre os dois países. Também destacou que a conversa durou cerca de uma hora e meia e resultou em uma "conclusão muito positiva para ambos".
Durante a tarde, Trump disse a jornalistas que as conversas com o governo chinês estão "em boa forma" e que devem seguir em andamento. Ainda por meio de rede social, o presidente dos EUA sinalizou que deve ocorrer uma reunião, em breve, com representantes dos dois países, em local ainda indefinido. "Seremos representados pelo secretário do Tesouro, Scott Bessent, pelo secretário do Comércio, Howard Lutnick, e pelo representante comercial dos Estados Unidos, Jamieson Greer", escreveu.
Apesar de quase um mês após o acordo entre EUA e China, que reduziu temporariamente as tarifas de importação para produtos dos dois países, as negociações ainda seguem indefinidas. No último dia 12 de maio, representantes de ambas as nações firmaram um acordo em Genebra, na Suíça, para reduzir de 145% para 30%, as tarifas dos EUA sobre importações chinesas, e de 125% para 10%, as tarifas chinesas para produtos norte-americanos. A medida vale por 90 dias.
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Insegurança
No entanto, imes sobre as disputas comerciais entre os dois países acendem um alerta de insegurança para o mercado global. Na análise do economista-chefe da Bluemetrix Asset, Renan Silva, o mercado ainda espera com redobrada cautela a continuação das negociações entre Washington e Pequim. "O Trump alega que o Xi Jinping, realmente, é muito difícil de negociar, mas que também ele simpatiza com o presidente chinês. Isso é aquela dubidade nas negociações que o Trump sempre coloca, mas que faz parte do jogo da negociação. O fato é que o mercado está precificando, realmente, uma tarifa generalizada de 50% sobre os parceiros norte-americanos", disse.
Para a estrategista-chefe da Nomad, Paula Zogbi, o movimento geral do mercado é de tomada de risco em meio às negociações entre Trump e Xi Jinping. "Moedas de países emergentes e ligados a commodities são especialmente beneficiadas, pela forte exposição à economia chinesa, e o fluxo de entrada no Brasil especificamente se apoia na expectativa pelo anúncio de medidas fiscais estruturais nos próximos dias, em substituição às mudanças do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras)", considerou.
Além do conflito internacional, a cautela também se deve à espera dos dados do mercado de trabalho norte-americano, pelo payroll, que será divulgado hoje. A pesquisa, sempre muito aguardada pelo mercado, pode trazer dados mais fracos para a geração de emprego no país, na avaliação do analista de investimentos, Felipe Sant'Anna. "O mercado de trabalho dos Estados Unidos está muito pressionado, a criação de vagas está muito pequena e o número de pedidos de seguro-desemprego veio muito alto", afirmou.
Enquanto o real se valorizou ante ao dólar, com o noticiário doméstico mais ameno, o Índice da Bovespa (IBovespa), principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), perdeu força no fim do pregão e fechou o dia em queda de 0,56% aos 136.236 pontos, acompanhando a queda das bolsas norte-americanas. O Índice Dow Jones recuou 0,25%, e a Nasdaq, bolsa das empresas de tecnologia, escorregou 0,83%.
Na véspera, o IBovespa caiu 0,40%, o dobro do recuo do Dow Jones (-0,20%). Após mais um dia de queda na B3, Sant'Anna disse que acredita que o indicador pode perder ainda mais força nos próximos dias, após ter superado a casa dos 140 mil pontos há pouco tempo. "A Bolsa brasileira perdeu aquele gás, perdeu aquela força das últimas semanas que estava batendo recordes. Agora, devemos ficar de olho em uma realização que pode continuar, sim, buscando a casa dos 130 mil pontos", conjecturou.
O movimento de queda do IBovespa, ontem, foi marcado pela queda de ações de bancos que lideraram as perdas entre as Blue Chips — as de maior liquidez na Bolsa. Bradesco liderando as baixas (-3,1%), seguido por Itaú Unibanco (-1,38%) e Itaú SA (-1,28%). Mas a maior queda do dia na B3 ficou com a Contax, que desabou 73,78%.