
Milhem Cortaz não fazia teatro há 12 anos. O ator, que tem dezenas de trabalhos na televisão e, este ano, grava a série Vermelho sangue para a Globoplay, adora o tablado, ainda mais quando tem a companhia de uma trupe. "Pra mim, o grande barato de fazer teatro é o jantar depois, a balada com meus amigos, os ensaios, as brincadeiras. Eu vou lá pra encontrar gente e eu gosto de gente", explica o ator, que sobe ao palco do Teatro Unip neste fim de semana com a peça Diário de um louco, adaptação de texto de Nicolai Gogol dirigida por Bruce Gomlevsky.
É um monólogo, algo muito diferente do que Cortaz está acostumado, com sets de novela e teatro em grupo. Mas é, ele avisa, exatamente o que precisava para pisar novamente no tablado. "Em um monólogo, você fica solitário com seus questionamentos, sozinho. É o grande exercício, a exigência que eu precisava e a atenção total que tenho só pra mim foram fundamentais para voltar a andar de bicicleta", brinca.
Escrito por Gogol em forma de conto e publicado no século 19, o texto é um dos grandes clássicos da literatura russa e narra a história de Poprishchin, um apontador de lápis, servidor público, semianalfabeto, que se apaixona e desaba em delírio quando descobre não ser correspondido. "Eu amo esse texto, ele fala de classes sociais, é político, mas escolhi fazer falando de amor, porque acho que a única coisa que me enlouqueceria era não ser amado e não me deixarem amar. Eu estava há um tempo querendo falar do amor, ao próximo, à vida, o amor em geral", conta.
O desafio de Cortaz e Gomlevsky era adaptar o texto de Gogol sem mudanças, pegar uma tradução e levar para o palco. "A gente ensaiou durante um período, descobriu o caminho e eu fui construindo o personagem, que é bastante corporal, é um teatro bastante físico. Acho que todas essas questões am pelo emocional e, para mim, o emocional no teatro vem pela narrativa do físico, do corpo", explica Cortaz. O resultado é uma montagem que não a por adaptações e leva ao palco o texto de Gogol sem modificações.
Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular
De uma classe social mais baixa que a da amada, preso em uma sociedade extremamente opressora e conservadora, Poprishchin encontra vida na paixão e leva um tempo para compreender que não é amado nem visto com bons olhos. "Isso o faz questionar a vida e a posição social. Daí ele conclui que ser um funcionário público não é nada visível em que se possa apoiar. E, então, decide que é o rei da Espanha e tenta resolver essa falta de amor pelo poder, mas descobre que sem amor, nem o poder funciona", conta Cortaz, que nunca havia encenado um autor russo antes e muito menos um monólogo.
Diário de um louco
Com Milhem Cortaz. Texto de Nicolai Gogol. Direção: Bruce Gomlevsky. Hoje, às 18h e às 20h, e amanhã, às 17h e às 19h30, no Teatro UNIP (913 Sul). Ingressos: R$ 50 (meia) a R$ 150.